O quão difícil pode a adolescência ser! ☮☯🍀
Já há muito tempo que tenho pensado em partilhar isto com vocês…é algo muito difícil para mim. Tenho tentado ganhar coragem e talvez tenha chegado o dia. Gostaria que esta compartilha servisse de ajuda ou apenas de reflexão para a sociedade em que nós vivemos. Isso deixar-me-ia muito feliz.
Sei que não sou a única, nem a última pessoa a passar por isto, a sofrer tudo o que tenho sofrido. Mas também não pretendo que seja um apelo à compaixão de ninguém, mas sim, um exemplo para quem esteja a passar pelo mesmo, pois este tem sido cada vez um dos maiores problemas com os quais nos deparamos na nossa sociedade atual.
Bem, tudo isto começou com simples palavras de supostos “amigos” que diziam: “Olá gorda” ou “Tu nunca vais emagrecer”. Sim, eu ouvi estas palavras. Talvez tenham sido pequenas brincadeiras. No entanto, por vezes, vemos muita gente a dizer coisas sem pensar que possa magoar o outro. E sim, infelizmente, cada letra das palavras que me disseram ficaram gravadas para sempre na memória. É sofredor? É, e muito. A partir daí, nada mais me preocupou até aos dias de hoje. Já lá vão quase 3 anos, porém, quase nada mudou. Bem, na verdade, tudo mudou. Mas vou tentar ser mais específica.
A partir do momento em que ouvi aquelas palavras horríveis, olhava à minha volta e via todas as pessoas com um corpo dito “perfeito” e, quando eu me olhava ao espelho via “um mostro”. Eu mesma não gostava do que via, mas será que estava realmente assim tão “gorda” como eu me pensava? A minha ideia inicial era apenas perder 2/3 kg, para chegar aos 50kg. No entanto, perdi completamente o controlo. Comecei a fazer desporto de uma forma paranoica, em excesso. Eu sei que o desporto faz bem e, desde sempre, tem sido uma grande paixão minha, mas da forma que eu o fazia não era saudável de forma alguma. Para além disso, não comia quase nada. Havia dias em que as minhas “refeições” podiam ser apenas uma maçã. Cheguei a ter amigos meus que me perguntavam: “Isso vai ser o teu almoço?” e a minha resposta era: “Sim, não tenho muita fome!”. E assim continuou durante quase um ano. Todos os dias me pesava ao acordar e ao deitar. Por vezes, chegava a pesava-me mais do que duas vezes por dia. Tornou-se doentio tudo aquilo que eu fazia, ou que não fazia. Em menos de um ano, cheguei a pesar 39kg. Isto não é nada normal para uma adolescente de 18 anos. Era aqui que queria chegar também. Além das palavras que me foram ditas, além de ver todas a pessoas “bonitas”, tudo calhou no momento da adolescência, “bad timing”. Todos nós sabemos que esta é uma fase muito complicada, claro que não é para todos. Ma regra geral, sim! Cada um à sua maneira.
Depois de tudo isto, comecei a ouvir coisas normais das pessoas que já não via há algum tempo. Sim, porque eu não tinha vida social. Os meus dias baseavam-se apenas no desporto e no estudo. Diziam-me: “Estás tão diferente!”, “Estás tão magra!”, “Passa-se alguma coisa?”, “Estás doente?”. A resposta era sempre a mesma: “Não, não estou doente! Está tudo bem comigo”. No entanto, todos sabiam que não estava assim tão bem, dava para ver pelo meu físico.
Neste longo processo, as pessoas que realmente gostam de mim, sempre me avisaram que a situação estava fora de controlo. Mas é claro que uma pessoa que está no estado em que eu estava, não vê nada do que os outros vêem. Apenas uma realidade que o seu própria espelho lhe revela. E sim, estou a falar de anorexia, mais propriamente “anorexia nervosa”. Tudo em mim mudou. Quase não saía de casa, para além da escola e das minhas corridas. Comecei a responder muito mal às pessoas da minha família, pois como se costuma dizer: “Magoamos sempre as pessoas que mais amamos”. Claro que não era nada disto que eu queria, mas estava fora do meu controlo. Eu não me conseguia comandar a mim mesma. E gostava de voltar o tempo atrás, isso sim. Gostava, e muito! Mas talvez tudo pudesse ser igual, talvez não fosse conseguir alterar nada. Por isso, a cada dia que passa é uma luta constante. Porque claro, apesar de ter conseguido ultrapassar alguns dos meus problemas, apareceram, em consequência, outros que têm sido ainda mais difíceis. Mas já não tenho coragem de contar mais…talvez daqui a uns anos consiga olhar para trás e ver que consegui ultrapassar tudo isto e aí, talvez consiga partilhar mais um pouco da minha história.
Com tudo isto, o que eu gostava mesmo que ficasse é que não existe um modelo de ser humano “perfeito”. Há pessoas mais altas, outra mais baixas, umas com mais peso, outras com menos peso. Mas isso não significa que não sejam bonitas. Cada pessoa é perfeita à sua maneira, e devemos amar-nos e aceitar-nos da maneira que somos ou então criar a nossa própria perfeição, mas de uma forma saudável para o corpo e para a mente. E, para além disso, gostava muito que as pessoas pensassem antes de dizer certas coisas, ou de fazer certos comentários que possam magoar o outro!
Um beijinho e muita força para quem esteja a passar pelo mesmo! 🌙💫💞
27/03/2018